Sunday, June 26, 2005

Audácia

Alguns dos meus amigos são bastante arrojados... Numa palavra com três letras ousam dar quatro erros.

Thursday, June 23, 2005

Apara

Ussel, França
Na pequena cidade de Jacques Chirac…

Não! Não!... Não é o cavalo de Tróia! É (pretende representar) uma apara de madeira. Uma apara de madeira a fazer-me pensar... Uma apara, que é um fragmento de qualquer objecto desbastado ou aplainado. Uma apara que, para além de substantivo, é a conjugação do verbo aparar na 3ª pessoa do singular no presente do indicativo. Aparar… Aparar de aparar o jogo, de satisfazer os desejos ou caprichos.

Estes gajos são mesmo bons… cordeirinhos! Em Portugal, onde até já abriu a época dos incêndios (à semelhança das outras épocas... da caça, da pesca, et caetera), este monumento já tinha virado cinza.

Fogo!, isto era apenas uma apara feita em madeira a fazer-me pensar.

Sunday, June 19, 2005

Beijos

Beijos?!
Várias são as formas de encerrar um assunto escrito, de dizer um adeus, um até mais ver, um até breve, um até sempre. Entre amigos, seja numa carta do correio tradicional, numa mensagem de correio electrónico ou numa mensagem SMS, faz-se, normalmente, com beijos ou abraços, dependendo em grande medida da personalidade, da empatia, do afecto e da confiança que se tem com a pessoa que está do lado de lá. Porque quase não acredito em amizades entre homens e mulheres dou comigo a analisar, confortavelmente, os significados dos vários motes de encerramento das mensagens que vou recebendo e enviando. Várias são as suas formas como diferentes são os seus significados.
Não há nada pior do que receber o convencional “beijos”. Beijos é muito menos que o plural de beijo. Beijos é aquilo que eu escrevo às minhas amigas com quem jamais iria para a cama. Essas são as amigas que nos aturam as mágoas, que nos levam a casa quando estamos bêbados, que nos tratam da desorganização natural e característica de machos. As amigas de quem, nos simplórios correios, nos despedimos com beijos são a coisa mais parecida que existe com o homem. Com elas podemos ter qualquer tipo de conversa sexual sem se gerar espécie alguma de empatia (Empatia sexual não é mais do que aquilo a que a maioria dos broncos chamam de química).
O Beijinho! O beijinho, ou existe entre duas pessoas no começo de uma relação que se pretende idílica, demonstrando carinho, respeito e afecto, ou aparece simplesmente para cumprir o seu papel de diminutivo. Eu não gosto de diminutivos sejam eles de que espécie forem. Quando o beijinho é apenas um diminutivo de beijo ele consegue ser ainda mais mordaz que o já descrito beijos. O beijinho e todas as variantes que muitas pessoas ousam empregar para conseguirem um exponencial do seu significado: Beijinho fofo; beijinho grande, o maior beijinho do mundo; beijinho com sabor a morango; etc, representa um “até podes dormir comigo mas é como irmãos”. Ora, dormir como irmãos é o pior que se pode fazer a um homem ou uma mulher.
O plural de beijinho está ligado a toda a espécie de fofozuras. À semelhança dos beijos ninguém vai para a cama com alguém a quem dá beijinhos. Beijinhos não cumpre outro papel que não seja o de diminutivo. Beijinhos representa fofinhos e fofinhos são os ursos de peluche, que servem apenas para adormecer espíritos mais irrequietos. “Inhos” são sempre coisas flácidas, coisas moles. Tirando os ovos, ninguém gosta de coisas moles. Os diminutivos são atentados à masculinidade de qualquer homem.
Beijocas. Trinta vezes pior que beijinhos! Beijocas significa: Estou completamente a marimbar-me para ti, para o que tu pensas ou para o que pensas que pensas. Beijocas dá-se a quem não conseguimos dar beijinhos. Beijocas aparece no fim das mensagens apenas para demarcar o seu final, mais nada. Não representam coisa alguma. São o vazio.
Neste emaranhado de beijos e abraços não há nada que chegue ao singelo beijo. Um beijo deixa sempre uma porta aberta para tudo. Por princípio é dado na boca, ao invés de todas as outras formas que são dadas na face. Os, por exemplo, beijinhos nem sequer se dão... ou dão-se, mas no ar, na atmosfera. Quem quiser que os apanhe!
Bem, não termino esta reflexão com um beijo porque li algures que "quando desejamos muito alguma coisa, o Universo conspira a nosso favor" (Paulo Coelho). Assim, despeço-me com um Xi para todos vós.

Também eu não sou capaz de escrever a velocidade dos meus pensamentos...

Monday, June 13, 2005

"- Ah, Doroteia, és muito nova ainda para perceber que o destino de certos homens é o de nunca amarem quem deviam amar!"
[Miguel Sousa Tavares, Equador]

Friday, June 10, 2005

Anjo da guarda minha companhia

A partir daquele momento lembro-me de ver, por momentos, uns peitos ridículos amarfanhados a ferro e cetim em direcção a um tecto rústico, como eu. Era menina a menina do bar. Lembro-me dos copos que ela me foi passando pelas mãos. Eram, duvido, de vidro, transparentes para deixarem exibir o que lá dentro se misturava. Passei, sem dar por isso, a gostar da expressividade da vodka e da simplicidade do limão. Passei a adorar as misturas por descobrir que representam perfeitamente as realidades sistémicas. A expressividade da vodka e a simplicidade do limão misturadas valem muito mais que a singularidade das suas partes. É como uma antena que, desprovida de um corpo receptor (rádio ou televisão), continua a captar ondas hertzianas mas perde o significado do todo, como uma rádio que sem um público perde a razão para a sua emissão. Imagine-se um corpo todo separado nas suas componentes. De nada serve um coração bombear se não tiver veias para conduzirem a sua energia. De que servem as veia condutoras se não existirem as células receptoras? De que valem as células se não representarem o invólucro de tudo o que nos segura as palavras, os pensamentos, as atitudes, termos basilares da socialização? Por isso é que a força do todo é muito maior que a força de cada uma das partes somada separadamente - Que é que isto importa? (Mais uma vez) Nada!. Importa sim pois lembro-me de absorver a dita mistura, uma, duas, três, quatro, daí em diante pouco mais me lembro. Senti o meu pensamento no meu estômago e o meu estômago nas minhas entranhas... Depois desalinhei tudo numa imagem difusa para que o estômago não manifestasse a incompreensão que aquele momento lhe incutia. Vi faróis passarem por mim em movimento, vi luzes estáticas a iluminarem-me o caminho, vi o verde dos semáforos a desconcertar as outras duas cores primárias – não consigo entender porque não substituem o verde composto do semáforo pelo azul primário, como não consigo entender porque teimo em ser do Sporting. Vi o alcatrão entrar-me narinas dentro como ar forçado. Sempre contra mim, mim adentro, adentro de mim. Depois, tudo era vermelho, depois, tudo era vermelho irreflectido, reflectido intermitentemente de azul.
Mas houve alguém que me levantou, que apanhou os pedaços de mim e inteiro me levou a casa, segurando-me com as duas mãos, tentando manter a força sistémica do todo. Foi uma presença ali umbilical, minha. Uma presença que a ordem das coisas não permite ser de mais alguém. Uma presença que trago a cada momento com a mesma necessidade do ar que respiro: O meu anjo da guarda.

Thursday, June 02, 2005

Viciados...

Ussel, França

(Sem nexo)
Na net,
No tabaco,
No cavaco,
Na retrete.
Os concursos,
Os dados,
Os resultados,
Os recursos.
Na heroína,
Na cocaína,
De adrenalina,
Na chacina.
No trabalho,
No baralho,
No fogo,
Sem fôlego
No sexo,
Sem nexo.
No amor,
Que horror!